"A economia brasileira tem muito potencial, está se recuperando e consideramos que este é o momento de investir nela, além do mais porque os ativos estão relativamente baratos para empresas canadenses", resume o cônsul e comissário comercial em São Paulo, Kenneth Johnston.
Ele é um dos conferencistas da caravana que amanhã desembarca em Montreal para mostrar o Brasil a empresários da segunda metrópole do país, com 3 milhões de habitantes.
Ali, como em Otawa (do lado leste do país), e depois em Vancouver e Calgary
(oeste) e na mais industrial das cidades canadenses, Toronto (de volta ao leste), a comitiva liderada pela embaixadora canadense no Brasil, Suzanne Laporte vai expor, até o dia 19, sobre oportunidades entre as economias. A missão é integrada pelo embaixador brasileiro no Canadá, Valdemar Carneiro Leão, por representantes diplomáticos das duas nações, e homens da iniciativa privada bilateral, como o vice-presidente no Brasil do Scotiabank, Eduardo Klurfan.
A palestra que a embaixadora Laporte preparou para o road show define o Brasil como um "parceiro por opção". O cônsul Johnston falará das possibilidades do mercado brasileiro de tecnologia e telecomunicação, incluindo telefonia celular. E Silvio Ostroscki, da International Datacasting Corporation, falará a respeito das perspectivas de sucesso de exportações ao mercado brasileiro.
O financiamento canadense de exportações e os serviços do governo do país em favor dos exportadores locais também estão na pauta do road-show.
"Além do mais, temos grande afinidade emocional entre os países. Mas a economia do Canadá quer mostrar-se agora com todo vigor ao mercado brasileiro, exibir toda sua potencialidade em setores como o de serviços e na área de tecnologia, algo ainda pouco conhecido dado o nosso estilo comercial menos agressivo em comparação a outros países", opina Goldie Schermann, conselheira comercial/econômica do consulado em São Paulo.
O país cujo PIB no ano passado foi de US$ 820 bilhões enfrenta dificuldades mesmo para exibir a sua já significativa presença corporativa no Brasil, consolidada por empresas como Alcan, Nortel, Molson (dona da Kaiser), Brascan, SciCan, Synermed, Corel e Genetiporc, entre outras, nem sempre associadas com a origem canadense.
Balança enfraquecida
O esforço oficial para a recuperação dos negócios bilaterais é facilmente explicado pelas estatísicas comerciais dos últimos anos. Em 1997, a relação bilateral chegou a seu nível histórico máximo, com uma corrente de comércio (exportações e importações somadas) de US$ 2 bilhões.
O período, porém, foi paradoxalmente o auge de desequilíbrio na relação. O Brasil amargou no ano um déficit de US$ 869 milhões. O Canadá era o oitavo maior exportador ao Brasil (com US$ 1,45 bilhão), enquanto como comprador de bens brasileiros figurava apenas em 19º lugar (US$ 583 milhões).
A vantagem na balança bilateral em favor do Canadá - que vende ao Brasil sobretudo artigos como papel e papelão, fertilizantes, petróleo, máquinas, máquinas elétricas, equipamento para aviação e instrumentos médicos - persistiu de fato durante toda a década passada e manteve-se, ainda que de forma decrescente, até 2001.
A virada brasileira na conta bilateral - embora com o encolhimento no volume de trocas, de volta a níveis como os de 1995/1996 - só ocorreu no ano passado, quando houve pequeno superávit de US$ 42 milhões. Para este ano de 2003, no acumulado até setembro, o saldo positivo supera os US$ 200 milhões.
As exportações brasileiras tendem a romper pela primeira vez o limite de US$ 1 bilhão, à base principalmente de veículos, ferro e aço, maquinária elétrica, açúcar, alimentos industrializados, calçados café, chá e madeira.
"Uma de nossas mensagens principais aos invesidores canadenses é a de que o Brasil já tem uma política econômica estável, que vai crescer cerca de 4% no ano que vem e que os ativos no Brasil continuam relativamente baratos. E dizer que, além de um presente equilibrado, investir no Brasil é uma forma estratégica de inversão", complementa o comissário comercial Johnston.
Para ele, o assunto Embraer versus Bombardier sempre recebeu maior exposição no Brasil do que no Canadá e que isso não atemoriza o investidor canadense e nem enfraquece as possibilidades comerciais.
O cônsul vê como obstáculo de fato a desinformação de boa parte do empresariado canadense sobre o Brasil, algo que se pretende minar com eventos como este "road-show".
"Ainda confundem muito o País com a Argentina. Vamos mostrar que são economias bem diferentes", diz Johnston.
Para ele, o avanço nas negociações para a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) tende a ajudar na relação bilateral. "Nossas ofertas ao Mercosul não são diferentes das que fizemos a outras regiões da América Latina", adverte o cônsul, referindo-se a diferenças mantidas em relação à política dos Estados Unidos (EUA). Este fez propostas diferentes a diversos países e blocos da região, a pior delas ao Mercosul.
kicker: "A economia brasileira está se recuperando e os ativos estão relativamente baratos"
(Gazeta Mercantil/Caderno A5)(Ismael Pfeifer)