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   Notícias //Autonomia de Vôo 

 AUTONOMIA DE VÔO 

   

     Adolescentes se tornam mais independentes, responsáveis e comunicativos em período de estudo no exterior.

Beatriz Levischi

     Jay Goman, o professor, prometeu ensinar o “segredo do beijo” no dia seguinte. Mas, como os alunos vieram a descobrir, não havia ali nenhuma espécie de malícia. The KISS Formula (“Keep it simple and straight forward”, algo como “seja simples e direto”) conquista apenas no exercício de escrever instruções cotidianas, como amarrar o tênis, fritar um ovo ou tirar fotografias. 
     A atividade integra o curso de inglês avançado do programa de intercâmbio cultural canadense Ridley College, coordenado pelo Canadian International Student Service (CISS). O objetivo é estimular o aprendizado do idioma, por meio de aulas diárias com professores nativos, atividades de integração entre jovens de diferentes culturas e excursões turísticas. 
    Durante três semanas, os adolescentes (entre 14 e 17 anos) ficam hospedados num colégio de nível secundário, com arquitetura do século XIX localizado em St. Catharines – região de Ontário, a aproximadamente uma hora e meia de Toronto. Segundo Michael Reilly, diretor de marketing do CII, a idéia surgiu em 1979. 
    Os 11 programas de verão desenvolvidos pela organização conta atualmente, com a parceria de 25 países. Nas férias escolares do Brasil, ente 6 a 30 de julho, 60 alunos (e amigos) do colégio paulista Pueri Domus acompanhadas por três professores, tiveram a oportunidade de passar pela experiência em terras canadenses.
    Logo na imigração, a conversa engasgada com o funcionário impaciente anunciava a exigência crescente de autonomia que os perseguiria dali para frente. Guilherme Abdallan      Mundim, 14 anos, admite que tinha medo de não conseguir se soltar em outra língua. “Com o tempo, percebi que o inglês canadense é muito aberto e dá para entender direitinho”, conta animado.
    Arrumar a cama antes do café da manhã, servido ás 8h, era tarefa obrigatória. Semanalmente, as sujas deveriam ser separadas por cor e enviadas à lavanderia. Lucas Tafner Zahed, 14, preferia lavar as suas no chuveiro mesmo. “Meus pais me ensinaram assim. Cada dia eu levo um bloco para o banho e esfrego com sabonete liquído, que é o que eu tenho.” Num varal improvisado no quarto, as meias secavam ao vento da janela.
    Quando era preciso comunicar-se com os meninos e meninas da Rússia, República Dominicana, Espanha, Grécia ou França, valia até mímica. “Se você for tímido e não falar com ninguém, perde a chance”, diz Felipe Rama, 13. E até o simples ato de jogar bola, segundo Felipe Teixeira, 14, demanda o exercício constante do inglês para que os participantes consigam se entender.
    Como em toda viagem sem os pais, os contratempos também precisavam ser contornados sozinhos. “É fácil reclamar e não fazer nada. Eu gosto de resolver, sem depender de ninguém. Nada poderei contar com alguém para me proteger para sempre”, justifica Pedro Marchi Mendonça, 14, argumentando que o olhar das pessoas muda quando percebem que você tem atitude. Por outro lado, é importante desenvolver a flexibilidade. “Eu ando bem mais tolerante, embora não deixe de me impor quando necessário”. Comenta Marina Dias Jacinto, 17.
    Apesar de as meninas optarem por conhecer o Conservatório de Borboletas e os meninos preferirem o Jet Boating, a visita ao Wal-Mart, todo final da tarde, era o momento mais esperado por todos. “A empolgação não está em ir ao supermercado, mas sim em faze-lo sem os pais, podendo comprar o que a gente quer, com o dinheiro que a gente tem”, esclarece Luis Angel Valtina, 14.
    A família concorda que o investimento vale a pena. “ Meu filho Guilherme voltou mais independente, comunicativo e seguro ao falar inglês”, diz Elaine Abel. Para Denise Rapacci, Giovanna Madrelha – que sempre foi tímida e introvertida – ficou mais desinibida e confiante em si mesma. Sandra Nerguisan conta que a viagem deixou Gabriela mais calma e próxima. 
    Segundo o Centro de Educação Canadense (CEC), mais de 170 mil estudantes viajaram ao país para cursar os ensinos fundamental e médio desde 2000. O número representa aumento de 34% com relação ao período de 1995 e 1999.  Este ano, o governo canadense estima que 15 mil jovens desembarcarão por lá em busca de qualidade de ensino.
    Os investimentos em educação (como porcentagem do Produto Nacional Bruto) superam a média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e colocam o Canadá em segundo lugar entre os países do G-8. Nos testes de leitura, ciências e matemática do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), os canadenses aparecem sempre entre os sete primeiros do mundo.  
    Os brasileiros interessados no intercâmbio cultural podem escolher entre o estudo intensivo de inglês/francês ou matricular-se num programa acadêmico integrado, que conduza a um diploma de ensino médio (high school), caso possuam conhecimentos suficientes do idioma. O convívio com as famílias canadenses propicia, ainda, contato privilegiado com os costumes e hábitos locais.  
    Cursos de curta duração, nas próprias high schools, também estão entre as opções disponíveis, valendo-se de metodologia dinâmica e interativa, já que o estudante passa a maior parte do tempo em atividades que demandam o uso da língua aprendida em sala de aula. Uma visita à 9 ª edição da EduCanadá – que trará mais de 40 instituições de ensino a São Paulo (nos dias 16 e 17 de setembro, Ribeirão Preto (dia 19) e Salvador (dia 23) – pode ajudar a decidir.


LONGE DE CASA

    Na avaliação de Fernanda Purchio, diretora do Centro de Educação Canadense (CEC) no Brasil, e Suzi Almeida, consultora educacional do Centro Cultural Brasil – EUA de Campinas (CCBEUC), as viagens de intercâmbio cultural colaboram para:
     - Aprendizagem de línguas de forma mais eficaz, devido a aulas com professores nativos.
     - Contato com os diferentes condições climáticas, esportes, pessoas, histórias e lugares que ficarão para sempre na memória.
     - Independência e amadurecimento, por proporcionar vivências que influenciam na formação do adulto.
     - Flexibilidade e tolerância, uma vez que exige compreensão das diversidades culturais.
     - Desenvolvimento de habilidades de relacionamento e convivência com jovens de todos os cantos do mundo. 
     - Auto-conhecimeto e elevação da auto-estima. 
     - Melhores colocações no mercado profissional, pois muitas empresas valorizam a experiência no exterior.  
     A maioria dos programas destina-se a estudantes entre 15 e 18 anos, que estejam cursando o ensino médio. “Nessa idade, o ritmo de assimilação é mais rápido, como demonstram variados estudos no campo da neurolinguística, da psicologia, e da lingüística”, explica Fernanda. O ideal, para Suzi, é que a pesquisa das opções disponíveis comece na 8ª série. Assim, o estudante pode escolher com calma o país que deseja conhecer, além de sondar prazos, custos e pré-requisitos. Ambas acreditam que a ajuda da família, ao longo do percurso, mostra-se essencial. 

 


Noticia publicada  em Setembro de 2006 - Revista Educação  




 

 






 


 

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